terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Uma conturbada e assim não tão glamurosa vida de Advogado






É "mermão", quem falou que seria fácil?

Em algumas oportunidades aqui ou acolá já mencionei uma das histórias favoritas de meu pai (Grande Antonio Cândido!), que é aquela em que eu, ainda pivete, com 5 anos de idade, digo a ele meu desejo de ser advogado. Para uma criança, é normal essas resoluções que são tão fugazes quanto a chama de um palito de fósforo: Hoje quero ser advogado,  amanhã médico, astronalta no dia seguinte e assim vai. A questão é que este humilde interlocutor, definitivamente, não é uma pessoa normal e, mesmo não tendo nada próximo que alimentasse esse desejo, passei pela difícil adolescencia carregando comigo este objetivo, e, as 18 anos, ingressei na Faculdade de Direito.

A escolha da faculdade não foi bem uma escolha, foi uma bolsa integral que conquistei, e lá fui eu.

Não diria que fui como todo adolescente, afinal, já disse alhures, que sou diferente. Iniciei o curso deslumbrado, tudo me fascinava, cada palavra rebuscada (até mesmo este termo), dita de forma esnobe por aqueles que a entendiam, era sinfonia em meus ouvidos, e eu, tentando parecer natural, fui incorporando-as em meu então limitado vocabulário, na medida que ia compreendendo o seu significado.

Incorporei a vida de estudo, o Direito, já nas primeiras semanas, despertou em mim um monstro que até entao não se manifestava, ou seriam vários deles? Ego, curiosidade, fome por saber e, principalmente, competitividade fizeram de mim um estudante efetivo, mudei alguns hábitos e aos pouco moldei minha personalidade.

O resultado? Ora essa meus caros leitores, assim como todo experimento cientifico, há sempre percalços e como já tendo ao exagero, alguns deles levaram um tempo para serem reparados, aliás, ainda estamos constantemente alterando.  Até parece que vejo, como se fosse um filme, meus amigos e familiares falando comigo, dando "toques" poudando os meus excessos, tempos cômicos, tempos necessários.

Por que disse tudo isso afinal? Está sério e nostálgico demais !  Ah! Lembrei o porque.


Advogado tem fama de chato, pentelho, o cara que faz barulho por nada, não é verdade, ao mesmo tempo que é o cara que, ao se apresentar, é visto como o "cabra" montado na grana, que tudo conhece, que tudo sabe, àquele que se agrega respeito só por estar na conversa, e o mais interessante é que isso é algo que nos fazem acreditar desde cedo e o que levam muitos aos bancos da faculdade.

Uso-me como exemplo. Sempre fui um cara bacana (ao menos no ponto de visto), bacana no sentido de ser um amigo legal, quando entrei na faculdade, o tratamento, o prestigio, teve uma guinada interessante, passei a ser o cara que entende.

Uma vez formado e inscrito na OAB, puts, virei um alieniena, o cara que atigiu um grau de semi deus perante a mortais. O cara que entende tornou-se o cara que resolve e que resolve já, de imediato.

A mudança de status de estudante de Direito para Advogado, para o cidadão que sofre há mudança é um tanto menos prestigiosa do que ele imaginava, não entendeu? O.K., vou ser mais, explicito, porém delicado: O "baguio" é louco! Você passa a responder como tal recebendo muito pouco, entre outras coisinhas mais.

Sim, senhor, o senhor leu direito (ou a senhora, dependendo do gênero), ganha-se pouco sim! Nos matamos de ler, estudar para resolver um problema dos quais nem um muito obrigado recebemos às vezes! 

Quando inseridos num escritório, trabalhamos para uns figurões que desfilam de BMW e Mercedes mas que um dia (na era Jurássica), ralou feito um retardado para conseguir sobreviver, e quando trabalhamos por conta, como nosso caso, nos esfolamos para conseguir o pão nosso de cada dia.

Noites sem dormir, feriados prologados na penumbra do escritório, plantões em delegacias em meio ao caos e ao mal humor institucional, para atender bem os clientes que aos poucos confia sua causa a nós. Vida tirana! Quanta sofrência como dita a moda das ruas.

Ai, não bastasse tudo isso, você resolve aparecer, uma vez na vida, em algum evento social. O pobre coitado do advogado sai de terno (ou em sua versão feminina, de social, sei lá como se chama peças femininas específicas), e sofre aquele bulling social de que esta "arrumadinho" com a vida ganha e etc etc. Pior é quando o conceito visual não agrada, o famigerado colega sofre com as línguas que o apontam como pessímo profissional e por isso não prospere.

Não façam isso! Deus sabe o quanto pastamos nesta vida!

O interessante mesmo é os contrastes, pois, no aperto o advogado, esteja ele bem ou mal vestido, é o cara para tirar aquela dúvida, ouvir sua reclamação de outro advogado e etc, mas quando cobra ou  quando perde, xiiiiii, aguenta amigo.

Resumindo a opera, não vivemos de carrões importados, de viagens para paraisos tropicais ou das compras, não fazemos plásticas a cada ano e sim, também adoecemos, temos problemas e diabo a quatro.  A CARTEIRA DA OAB NÃO VEM COM UM CHEQUE POUPUDO IGUAL A DA MEGA SENA DA VIRADA (muito embora seja isso uma boa idéia), ralamos muito para conquistar o que conquistamos dia a dia, podemos até desfrutar de um ou outro luxo masa a vida tem seus momentos não tão glamurosos assim.


Somos igualmente humanos, a diferença é que temos maior habilidade em parecer não ser. #ficaadica


A propósito, embora não seja assim tão badalada como muitos pensam, é uma boa vida a ser vivida.